quinta-feira, 21 de junho de 2018

Resenha: Thelma


Eu gosto muito de assistir trailers aleatórios de filmes e séries no youtube, coisas que talvez jamais sejam lançadas nos circuitos de cinema aqui do Brasil, mas, que mesmo assim, eu gosto de saber que existem, para depois procurar pelos torrents da vida. E foi assim que eu descobri “Thelma”, filme que está concorrendo na categoria de “melhor filme estrangeiro” no Oscar 2018.


Agora, não preciso relembrar você que eu não acompanho mais a premiação há pelo menos seis anos, se não mais, mas isso não me impede de assistir os indicados e analisá-los de forma individual. Mas vamos falar de “Thelma”, esta pequena pérola norueguesa sobrenatural. O filme começa apresentando uma garotinha e seu pai indo caçar cervos e quando um dos animais aparece, o pai finge mirar nele, mas mira na cabeça da garota, só que antes de apertar o gatilho, ele desiste. Eles voltam para casa.

Passam-se 15 anos, Thelma é agora uma jovem universitária e está cursando biologia. Tudo vai bem, até que um dia, enquanto ela esta na biblioteca, a moça tem uma crise epiléptica e convulsiona até desmaiar. Essa crise é acompanhada de um estranho comportamento de um grupo de pássaros, dos quais alguns se chocam contra a vidraça da biblioteca.
A partir deste momento a vida de Thelma começa a virar de ponta-cabeça, ao mesmo tempo em que ela é constantemente vigiada de longe por seus pais, que observam cada movimento da garota no facebook e ligam para ela pelo menos três vezes por dia e entram em desespero quando ela não atende.
A coisa toda se torna ainda mais complexa quando Thelma começa a ter sentimentos conflitantes sobre uma colega de sala, Anja, ao mesmo tempo em que ela se sente romântica e sexualmente atraída pela garota (e é correspondida), sua criação estritamente religiosa e punitiva a impede de se entregar aos seus sentimentos.


E durante o desenrolar do filme, vamos descobrindo através de flashbacks o porquê de os pais serem tão irritantemente super protetores com Thelma e o motivo é bastante macabro na verdade, mas, não consciente o bastante para que possamos culpá-la.
Em nenhum momento é explicado exatamente o que Thelma tem ou faz durante as crises epilépticas, mas pelo que eu consegui compreender é algo na linha do que Carrie White faz com a telecinese (movimento de objetos com a mente). Infelizmente, seus pais vêem isso como um sinal do demônio e com bons fanáticos religiosos, tentam “expurgar o mal” da garota, sem notarem o quanto estão contribuindo para agravar o quadro psicológico dela.
Vale lembrar que este não é um filme para quem não tem paciência, pois as coisas aqui acontecem muito lentamente, em uma série de erros e acertos e decisões tomadas e retomadas. É um filme lento, tem duração de quase duas horas e as seqüência de filmagem são longas e exaustivas.
Há sequências de fotografia incríveis, a interpretação dos atores é limpa e direta, talvez  apenas um pouco seca, mas eu tenho notado que filmes não-americanos costumam ser menos emotivos nas interpretações, o que, claro não os torna ruins.



Pode-se dizer que o filme todo é uma metáfora sobre aceitação da própria sexualidade, libertação das amarras religiosas e da criação castrativa e de como para você crescer como pessoa, é preciso muitas vezes cortar por completo os laços que te conectam a família. Já que desde que Thelma toma consciência da sua condição médica, ela começa a ir buscar informações e tratamentos, sem reportar isso aos pais. E existem também várias cenas de simbolismo e sinestesia, em que ela entra em contato com algo e se transporta para outro lugar ou para perto de outra pessoa.
Arrisco aqui dizer que se “LadyBird” é a representação positiva da jovem mulher universitária e da luta pelas suas conquistas e ideais, “Thelma” é seu lado obscuro, mas igualmente cativante, pois em ambas as personagens, cada uma a sua maneira, há um fogo e um desejo de lutar pela liberdade e pela auto-afirmação como pessoa e enquanto eu assistia “Thelma” torcia para que ela atingisse a felicidade e se livrasse de todas aquelas amarras sociais e religiosas que a seguraram durante toda uma vida.



É um filme curioso, com pitadas de sobrenatural, romance lésbico, descobrimento e conquista da vida como individuo e porque não, crescimento como pessoa, o que costuma acontecer quando o filho sai do ninho para o mundo. Recomendo para quem quer ver algo fora da caixinha, com elementos de relacionamento e descoberta LGBT e… [desculpem o spoiler] final feliz.


Você pode baixar o filme [em torrent] Aqui

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